SOCRATES, JESUS E KARDEC - DA REENCARNAÇÃO, NA CULTURA
HELÊNICA, À BÊNÇÃO DO RECOMEÇO, EM NOSSO DIAS.
18 de abril – Dia
Universal do Livro – é uma data também muito significativa para a comunidade
kardequiana, isso porque assinala o 125º aniversário de O Livro dos
Espíritos, cuja primeira edição fora lançada em Paris em 18 de abril de
1857, dia em que, efetivamente, nasceu a Doutrina dos Espíritos. Além da
comemoração internacional, 18 de abril é, igualmente, festejado no Brasil como
o Dia do Livro Espírita.
Recordar, nesta oportunidade, não só a figura de Allan Kardec, codificador do
Espiritismo, mas também de um dos seus ilustres precursores, Sócrates,
enaltecendo-lhes os ensinos, realmente bem sintonizados com a moral cristã,
parece-nos atitude de coerente justiça no mês em que o transcendente livro
vence mais uma data aniversária no calendário da Terra. O
filósofo ateniense fora investido pelo Cristo de levar ao seu admirável povo,
em cujo seio floresceram os maiores expoentes da arte e da filosofia, os
pródromos de sua doutrina de amor. Jesus, cocriador da
organização planetária terrestre, trouxe-nos diretamente a sua mensagem de
eterna beleza espiritual. Allan Kardec, no terceiro quartel do século XIX, fora
escolhido pelo Cristo para trazer ao mundo, que se ajoelhava aos pés da deusa
Razão, as claridades espirituais. Quando lemos, pela primeira
vez, ainda moço, a Apologia de Sócrates, de Platão, não percebemos a
visão cristã-espírita da obra, com numerosos e inconfundíveis pontos de contato
com as lições do Mestre galileu e os princípios fundamentais da codificação
espírita, embora a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo o
apontasse e a seu fiel discípulo como precursores das ideias cristãs e
espíritas.
A referência de Kardec a essa
concordância merecera, talvez, de nossa parte, superficial importância. Mais
tarde, com a leitura da excelente obra A Caminho da Luz*, uma síntese da
história da civilização à luz do Espiritismo, psicografada por Francisco
Cândido Xavier, encontraríamos importantes menções de Emmanuel à altitude
espiritual do pensador grego, entre elas a de que “sua existência, em
algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do própro Cristo.”
Analisando, agora, depois de quarenta
anos de sua primeira leitura, a famosa obra de Platão, foi-nos possível
vislumbrar melhor o pensamento socrático, expresso no magistral diálogo com os
discípulos, no espaço de tempo decorrido entre a decisão condenatória e a
ministração da substância letal, que o levaria ao reino da imortalidade. As vidas de Sócrates, Jesus e Kardec,
seus ensinos e exemplificações, realmente assemelham-se bastante. O sábio grego
foi acusado de corromper crianças e os jovens do seu tempo, porque difundia,
nas praças públicas, a unicidade de Deus, a imortalidade da alma, a existência
da vida futura, descortinando uma “visão mais ampla da fraternidade humana e
da família universal”, como acentua o autor do A Caminho da Luz. Jesus
transmite ao povo, no santuário da natureza, as mesmas ideias, mais tarde
explicadas na codificação espírita. Teve o mesmo destino de Sócrates: a
condenação à morte. Allan Kardec sorveu o cálice do sofrimento, injuriado,
ferido em seus mais nobres sentimentos. Pagou caro, também, pelo crime de
trazer ao mundo novas expressões da verdade, que fariam ruir as bases de uma
sociedade ainda incapaz de entender e, muito menos, de aceitar a Nova
Revelação. Sócrates, como Jesus, não escreveu nenhum
livro. A filosofia da imortalidade, do gênio helênico, seria fixada, no tempo e
no espaço, pelos discípulos Platão e Xenofonte. A filosofia do amor e do perdão
implantada por Jesus na alma palestinense seria perpetuada, em função do
porvir, pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, pelo convertido de
Damasco, Paulo de Tarso, e por outros epistológrafos do Cristianismo nascente.
Dos três, somente
Allan Kardec, com o concurso da Espiritualidade Maior, deixaria livros
doutrinários, que a cultura contemporânea vai absorvendo a pouco e pouco. Sócrates e
Platão pressentiram, quatro séculos antes da vinda de Jesus (470-339 a. C.), as
generosas ideias de solidariedade humana que o celeste Benfeitor insculpiria,
mais tarde, no coração da Palestina. Não é sem razão, portanto, que Emmanuel
afirma, com sua incontestável autoridade: “É por isso que, de todas as
grandes figuras daqueles tempos longínquos, somos compelidos a destacar a grandiosa
figura de Sócrates, na Atenas antiga”. O método de ensino era o mesmo. Dialogando nas
praças, ruas e festas públicas, o sábio grego despertava o espírito de sua
gente para a ideia da imortalidade. Jesus pregava, nos templos, nos logradouros
públicos, nas praias e em festas (Bodas em Caná da Galileia – João, 2:1-12), a
filosofia do amor. Uma verdade é incontestável: ambos falavam ao povo, às
multidões ansiosas por ouvir palavras de vida eterna, mensagens de esperança. Cristo
e Kardec referem-se aos espíritos, os seres inteligentes da Criação. Sócrates
também o faz, mas substitui a palavra espírito por daimon. Em
clara alusão ao corpo espiritual de Paulo de Tarso (I Coríntios, 15:44), ou
perispirítico, na linguagem espírita, o gênio grego diz que o homem que se
alheia do bem, ao morrer, sai “com uma corporeidade que, por ter-se
familiarizado com o corpo, parece-lhe íntima e natural, porque nunca deixou de
viver em comunidade com ela e multiplicar as ocasiões de exercitar-se nisso”. Jesus
ensina: “São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo será luminosa; mas se forem maus, o teu corpo ficará em
trevas.” (Lucas, 11:34). Kardec,
indagando dos espíritos sobre o envoltório que sobrevive à morte corpórea,
obtém a explicação: “Tem uma coloração que, para vós, vai do colorido escuro
e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi, conforme o espírito é mais ou
menos puro”. (Questão 88, ítem A, de O Livro dos Espíritos).
Sócrates usa a palavra pesado, reportando-se ao corpo que sobrevive à
morte. Há uma harmonia muito grande entre os ensinos e as exemplificações de
Sócrates, Jesus e Kardec, mas temos que limitar nossas observações ao
essencial, atentos à natural carência do espaço.
O comportamento do mártir da Grécia, diante da morte, foi digno, sereno,
corajoso. Suas palavras ao funcionário encarregado de fazê-lo tomar a cicuta
revelam ternura, carinho, perdão: “A ti também, amigo, digo adeus. Farei o
que me dizes. Vede” – dirigindo-se aos amigos que lhe acompanham as horas
finais, na prisão – “que honradez neste homem. Durante todo o tempo em que
aqui estive, veio ver-me com frequência. É o melhor dos homens e chora por mim,
de coração. Mas vamos, Críton, obedeçamos-lhe alegremente e que me seja trazido
o veneno, se está preparado, ou então que se o prepare”. Jesus, ante a
turba agressiva, fanática, insana, pronuncia do alto do madeiro, palavras de
amor e perdão, que atravessam séculos e milênios: “Pai, perdoa-lhes porque
não sabem o que fazem”. (Lucas, 23:34). Kardec,
ante as injúrias que lhe atiram, revela nobreza, dignidade, equilíbrio.
Acreditando na palingenésia (do grego palin, de novo, e genésis,
geração), que é o retorno à vida corporal, Sócrates confabula com os
discípulos, deixando-lhes as últimas lições: “... se os homens depois da
morte voltam à vida, deduz-se necessariamente que as almas estão no Hades
durante esse tempo, porque voltariam ao mundo se não existissem e isso é uma
prova de que existem, uma vez que os vivos nascem dos mortos”. E o diálogo prossegue: “Reviver, se há
retorno da morte à vida, é efetuar esse retorno. Por essa razão, nos
convenceremos de que os vivos nascem dos mortos”. Ainda
sobre a reencarnação: “A mim também, Cebes, parece-me que nada pode se opor
a essas palavras e que não nos enganamos ao admití-las. Porque é certo que há
um retorno à vida, onde os vivos nascem dos mortos, que as almas dos mortos existem
que a sorte das boas almas é melhor e das más, pior”.
Notável a
dialética do grande vulto da humanidade. Tal como Jesus e Kardec, refere-se de
maneira bela e convincente sobre a morte, a sobrevivência, a reencarnação, as
virtudes evangélicas. Quem tiver olhos de ver analise, com serenidade e
isenção, a obra socrática. Jesus, no
famoso encontro noturno com Nicodemus, refere-se precisamente às vidas
sucessivas como recursos para a alma evoluir, aperfeiçoar-se, tornar-se feliz,
unir-se, ou melhor, reunir-se a Deus: “Em verdade, em verdade te digo que se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. (João, 3:3).
Kardec enfeixa admiráveis ensinos sobre a
reencarnação, que Emmanuel, em sua sabedoria, define por “bênção do
recomeço”. A
moral socrática, de que se embriagam espiritualmente os jovens e as crianças do
seu tempo (ó sublime ebriedade!), é a mesma com que Jesus e Kardec inundaram de
esperança o mundo nos séculos I e XIX da era cristã. Os três
ensinaram a justiça, praticaram a caridade, exaltaram as excelências do amor,
enalteceram o perdão, exemplificaram as mais belas virtudes cristãs,
estabelecendo, portanto, as coordenadas, as linhas mestras do processo
aprimoratório da alma humana.
O Jesus, o divino Mestre, a Kardec, Sócrates e
outros missionários, o tributo de nosso reconhecimento.
Jornal: Estado
de Minas 15 de abril de 1982 Livro: Evangelho Puro, Puro Evangelho – Na Direção do Infinito- Martins Peralva, organização de Basílio Peralva- Vinha de Luz Serviço Editorial
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