A
HISTÓRIA DA CALCINHA
Aquilo que a
mulher usa por baixo da roupa tem um significado todo especial para o universo
masculino. Mas não apenas para ele. A calcinha, acredite, diz muito da
história da mulher, representa sua trajetória e, mesmo escondidinha, não deixa
de ser motivo de rostos corados, risadas e, às vezes, constrangimento. A história dessa importante peça do vestuário
- que tem pouco mais de dois séculos de existência - é descrita no livro
"Por baixo do pano - a história da calcinha", da autora inglesa
Rosemary Hawthorne (Matrix Editora). Segundo ela, a calcinha apareceu pela
primeira vez em 1800, quando a revolução havia mudado a França e, por
consequência, toda a Europa. Na época, as mulheres passaram a usar
elegantes vestidos de cintura alta, inspirados na vestimenta das gregas
antigas. Mas esses "vestidos império", super sensuais, deixavam as
partes baixas arejadas demais. Surgia então o primeiro modelo de calcinha,
chamado de calção ou "pantaloon’, que chegava abaixo dos joelhos ou até os
tornozelos e era feito de um tecido "cor de carne" semelhante ao das
meias-finas. Antes disso, nenhuma mulher respeitável usava calcinhas. O livro
traz ainda a relação da feminista americana Amelia Bloomer com a calcinha e
chega até o modelo fio-dental, bem difundida aqui no Brasil. A autora dessa
obra, hoje uma das maiores autoridade britânica em história da roupa íntima,
conversou com o Vila Dois e explicou porque a calcinha
está relacionada tanto à moda quanto aos direitos da mulher. Rosemary é conhecida hoje no
Reino Unido como "Knicker Lady", ou a "Dama das Calcinhas",
nome do espetáculo solo que apresenta com sucesso nos palcos do país.
Quanto tudo começou?
Um dia, uma estudante que estava fazendo um
trabalho sobre o uniforme das meninas me perguntou de onde vinha a palavra
"Bloomers". Eu estava contando de onde ele veio quando ela disse que
não encontrava tal resposta em livro algum. Aí então eu resolvi escrever sobre sutiãs e depois sobre ligas e meias-calças.
Um conjunto todo sobre lingeries.
Qual a importância da calcinha hoje e como essa
"importância" viajou ao longo dos anos? Hoje é importante porque faz
parte de uma indústria muito lucrativa. As mulheres estão acostumadas a
usá-las, desejá-las e comprá-las e isso não vai mudar nunca. Até porque elas
nunca tiveram esse tipo de poder de escolha antes. Mesmo nos séculos 18 ou 19 o
poder de escolha era baixo. Além disso, no passado você precisava ser rica para
comprar uma. Depois da invenção da máquina de costura e dos tecidos sintéticos
e da emancipação efetiva da mulher, no século 20, elas passaram a querer usar
calcinhas e podiam comprar. Mulheres que ganham seu próprio dinheiro e tem
poder de compra transformaram sua importância diante da indústria.
A calcinha desperta no homem vários sentimentos. O
que você descobriu sobre isso nos seus estudos? A calcinha sempre teve a
habilidade de promover excitação. Isso porque elas escondem a nudez e são as
"guardiãs" do paraíso. Antes das calcinhas, o "garter"
(aquele elástico que pode ser usado na perna, sobre a liga) era o grande traje
sensual. Homens escreviam poemas sobre, brigavam por causa de um. Na época, era
usado por virgens e donzelas. Hoje, noivas continuam usando. Mas, atualmente, o
significado mudou um pouco, passando do sensual ao erótico.
Eu nunca contei, na verdade. Mas olhando o meu guarda-roupa, acho que tenho mesmo umas 450 calcinhas antigas, além de "bloomers" e meias-calças do século 19, modelos de seda e nylon... até modelos mais modernos, menores e "safadinhos". Eu tenho todo tipo e tamanho, desde aquelas baratinhas, de supermercado, até modelos do sexy shop "Ann Summer”. Calcinhas fazem parte da mulher e de sua história social e isso me fascina. É por isso que escrevi o livro e faço meus shows.
Por Sabrina Passos (MBPress)
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